A Comissão Europeia já fez este exercício. Desenhou sobre um mapa da Europa o potencial para a produção de electricidade a partir do sol. E, na imensidão do continente, uma pequena mancha, quase periférica, está assinalada com a cor mais carregada - a que indica onde seria mais barata a electricidade solar.
A benesse cabe a Portugal, mais precisamente ao polígono formado pelo Algarve e pela zona leste do Alentejo, onde o sol reina à vontade, para o bem e para o mal. E é aí que se inaugura hoje a maior central solar do mundo, pelo menos por ora. São 52 mil painéis fotovoltaicos, com uma potência total de 11 megawatts (MW), que transformarão a radiação solar em electricidade suficiente para suprir o consumo de oito mil pessoas.
Construída em Serpa pelas empresas General Electric, PowerLight e Catavento, a central em breve terá companhia. Não muito longe dali, Moura irá receber uma unidade ainda maior, com 62 MW de potência. Outros projectos estão a materializar-se na região (ver infografia).
Portugal ainda está longe, porém, de aproveitar o seu potencial. O ingrediente básico é abundante no país. Em média, o Sol brilha 1600 horas por ano no Norte e até 3300 horas por dia no Sul, segundo dados do Instituto de Meteorologia.
Tavira, um dos pontos mais ensolarados de Portugal, chega a ter 12 horas de Sol diárias em Agosto. Mesmo em Janeiro, em pleno Inverno, contam-se, em média, 5,5 horas sem nuvens por dia.
Planos convincentes:
As condições são tão boas que Arnulf Jäger-Waldau, especialista do Centro de Investigação Comum (CIC) da Comissão Europeia, acredita que nem é preciso haver tarifas especiais para viabilizar projectos no país. "Se um projecto tiver um plano de negócios convincente, pode ir adiante", disse, durante uma visita de jornalistas ao CIC, na semana passada.
Apesar disso, ainda em 2005 Portugal estava a meio da tabela dos Estados-membros da UE, em termos de capacidade instalada em painéis fotovoltaicos. O líder absoluto, com uma quota de 86 por cento, é a Alemanha, bem mais fria e nebulosa.
Segundo Kenneth Nunes, presidente da Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES), os alemães apostaram, desde cedo, nessa indústria como um sector estratégico de investimento. Portugal só agora começa a mover-se. "É um passo em frente. Pelo menos a inércia está vencida", diz Kenneth Nunes.
O Governo fixou um tecto de 150MW, até 2010, para a potência instalada de centrais fotovoltaicas. Até meados do ano passado, as unidades já aprovadas pelo Ministério da Economia e da Inovação somavam 93MW. Neste conjunto, estão incluídas as megacentrais de Serpa e de Moura.
Produção dispersa:
Mas a ideia de grandes extensões de painéis solares para produzir electricidade é controversa. O Sol brilha em todo o lado e, por isso, muitos defendem que o aproveitamento mais adequado é através de pequenas centrais, dispersas. "Faz mais sentido produzir mais próximo dos centros de consumo", afirma Miguel Morgado, da empresa Eurosolar, que quer implantar uma rede de 260 micro-estações fotovoltaicas em Mértola e Almodôvar.
"A fotovoltaica em grande escala, a meu ver, é um disparate", corrobora Manuel Collares Pereira, professor do Instituto Superior Técnico e também empresário do sector solar.
Collares Pereira até defende o aproveitamento da energia do Sol em grandes projectos, mas de uma forma diferente. É isto o que promete o consórcio Energia Solar Térmica de Portugal, que reúne duas empresas portguesas e uma da Austrália - de onde virá uma tecnologia a ser ensaiada em Tavira. Ali será construída uma central solar termoeléctrica, com 6,5 MW de potência.
Em vez de painéis fotovoltaicos, a central terá longas filas de espelhos, que reflectirão a luz solar em direcção a um tubo com água, produzindo vapor. Este, por sua vez, girará uma turbina, produzindo electricidade - tal como numa central térmica. A diferença está no combustível: em vez de carvão ou gás natural, será o Sol.
Segundo Collares Pereira, centrais destas podem ser muito maiores. "A seguir, queremos fazer [centrais] para 50 e 100 MW", afirma
in "PÚBLICO"